Mercado Halal e Queda no Consumo Moldam a Pecuária
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Feira de produtos Halal |
Nos últimos anos, a
pecuária brasileira tem se visto no centro de transformações complexas. A
demanda por carne Halal, vinda de países muçulmanos, cresce de forma
consistente, abrindo oportunidades valiosas para exportadores. Ao mesmo
tempo, o consumo interno de carne bovina apresenta quedas históricas,
fruto de fatores econômicos, culturais e ambientais.
Este cenário paradoxal exige atenção redobrada dos pecuaristas: entender
o comportamento do mercado, adaptar-se às novas exigências e investir
em diferenciação são atitudes cada vez mais essenciais.
🧭 Sumário
🌍 A expansão do mercado Halal
A carne Halal segue normas específicas da religião islâmica, que incluem o método de abate, o bem-estar animal e até a ausência de contaminação cruzada com produtos proibidos. A boa notícia: o Brasil é líder nesse segmento, com reconhecimento internacional pela qualidade da carne e confiabilidade nas certificações.
🌐 Principais destinos da carne Halal brasileira:
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Indonésia
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Emirados Árabes Unidos
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Egito
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Arábia Saudita
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Malásia
De acordo com a ABIEC, os frigoríficos certificados Halal têm conseguido valores superiores por tonelada exportada. O apelo religioso, somado à exigência por qualidade, valoriza o produto e mantém a carne brasileira competitiva, mesmo com o dólar mais estável.
🧾 Certificações exigidas:
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Certificação Halal emitida por organismos autorizados
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Controle de rastreabilidade
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Cumprimento rigoroso de normas sanitárias e ambientais
🍽️ Por que os brasileiros estão comendo menos carne?
Enquanto o Brasil conquista novos mercados externos, o consumo interno de carne bovina continua em queda. Em 2024, o brasileiro consumiu em média 23,5 kg de carne bovina por ano — o menor nível desde os anos 1990, segundo o IBGE.
🧮 Fatores que explicam esse fenômeno:
1. Inflação alimentar
Apesar da desaceleração da inflação em alguns setores, o preço da carne continua alto. Com o poder de compra pressionado, muitas famílias substituem a carne bovina por proteínas mais baratas como frango, ovos e até alimentos ultraprocessados.
2. Mudanças de hábito
Dietas vegetarianas, veganas e flexitarianas estão em crescimento, sobretudo entre os jovens e nos centros urbanos.
3. Preocupações ambientais e éticas
A pecuária é frequentemente associada a emissões de gases de efeito estufa e ao desmatamento. Mesmo que parte disso seja uma generalização, a percepção pública afeta o comportamento do consumidor.
⚖️ O equilíbrio entre exportação e consumo interno
Esse "descompasso" entre crescimento internacional e retração doméstica traz desafios, mas também oportunidades. O Brasil vive uma fase de dupla estratégia pecuária:
➕ De um lado:
Fortalecimento das exportações, especialmente para mercados de nicho como o Halal, onde a exigência é alta, mas a margem de lucro também.
➖ De outro:
Necessidade de reconquistar o mercado interno, que exige adaptações — seja por preço, formato de apresentação ou apelo ambiental/social.
📌 Como entrar no mercado Halal
Ingressar no mercado Halal exige planejamento e atenção a protocolos específicos. A boa notícia é que cada vez mais frigoríficos no Brasil estão operando sob regime Halal, o que facilita a entrada dos pecuaristas na cadeia.
🛠️ Passo a passo básico:
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Identifique compradores e frigoríficos Halal em sua região. Eles buscarão animais dentro de certos padrões sanitários e produtivos.
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Adapte sua produção: o bem-estar animal é critério obrigatório, assim como práticas sanitárias rígidas.
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Busque orientação com entidades certificadoras Halal: elas farão visitas, vistorias e treinamentos se necessário.
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Tenha rastreabilidade e documentação em dia: CPF do animal, localização, alimentação, histórico vacinal etc.
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Crie relacionamento com a indústria: muitos frigoríficos organizam compras programadas ou contratos de fornecimento.
🔗 Dica útil:
Consulte entidades como a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira e a própria ABIEC para orientação e conexão com compradores.
💰 Rentabilidade e lucratividade na produção Halal
A rentabilidade na cadeia Halal costuma ser superior à média do mercado, mas exige investimentos em qualidade e padrão produtivo. A valorização do produto ocorre por:
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Prêmio por animal: frigoríficos pagam até 5% a mais por lotes destinados à exportação Halal.
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Demanda constante: países muçulmanos compram durante o ano todo, com picos em períodos religiosos como o Ramadã.
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Menor sensibilidade ao mercado interno: os preços não oscilam tanto quanto no mercado doméstico.
📈 Como maximizar a lucratividade:
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Aposte em acabamento de carcaça uniforme e padronização do lote.
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Mantenha sanidade rigorosa: abscessos, parasitas e problemas locomotores reduzem o valor do animal.
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Evite perdas pós-abate com manejo inadequado no transporte.
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Negocie contratos diretos com frigoríficos para garantir previsibilidade de receita.
📊 Estratégias para o pecuarista em 2025
Para lidar com esse cenário duplo e dinâmico, o produtor rural precisa tomar decisões cada vez mais estratégicas:
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Invista em certificações Halal
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Aposte na rastreabilidade digital
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Monitore tendências de consumo
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Diversifique produtos e canais
✅ Conclusão
A pecuária brasileira está em uma encruzilhada — e isso não é necessariamente ruim. A diminuição no consumo interno exige adaptações rápidas, mas também abre espaço para inovação. Já o fortalecimento do mercado Halal mostra como o Brasil pode ser líder global em nichos rentáveis e sustentáveis.
Produtores que estiverem atentos às novas exigências, investirem em qualidade, diferenciação e gestão de marca estarão mais preparados para um futuro em que vender carne não será apenas uma questão de peso e preço, mas também de valor percebido.
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